16.4.09

 

 

 

O calor aperta e a pobre criancinha destila dentro das "roupas quentinhas" que a mãe lhe vestiu. Sempre que alguém se aproxima do carrinho de bebé com o intuito de lhe pegar ao colo, ou mesmo de lhe fazer uma festa, é convidado a lavar as mãos, não vá o diabo tecê-las e o petiz apanhe alguma maleita desconhecida.
  
Na casa da tia o cenário mantém-se. Gatinhar pelo chão, nem pensar, brincar com o primo está fora de questão porque pode aleijar-se... Claro que mãe ou pai que se preze, tem receio que os filhos corram riscos e a preocupação é uma constante. No entanto, "entre o oito e o oitenta existem setenta e dois números" e há pais que sofrem do terrível síndrome da superprotecção.
 
São hiper-vigilantes, estão sempre presentes junto aos filhos livrando-os de todo e qualquer potencial perigo. Os pais superprotectores, vivem para lá dos limites do que é considerado sensato, em termos de educação. O mais grave, é que nem se apercebem que quanto mais desejam proteger os filhos, mais os vão fragilizando.
 
Um dia mais tarde, vão ter de lidar com pequenos tiranos, não preparados para lidar com o mundo que existe para além da redoma em que se habituaram a viver. Transformam os filhos em seres que não aceitam que nada lhes seja negado, porque os limites da tolerância à frustração não foram alargados.
 
Fazem birras por tudo e nada, exigem que todos os caprichos sejam materializados. Em crianças desejam ter todos os brinquedos do catálogo do supermercado, quando adolescentes exigem roupas de marca e telemóveis de última geração, mas em adultos os sonhos podem ir para além do possível, o que lhes vem a causar sofrimento e frustração.
 
Muitos procuram um psicólogo como forma de se livrarem do que começou por ser algo natural, mas rapidamente se transformou num problema. Outros, sem se aperceberem muito bem do que lhes aconteceu, vivem nos limites da depressão.
 
Para além de tudo, a intenção de lhes de facilitar a vida, acaba por criar uma relação de dependência face aos pais que não é benéfica. As crianças superprotegidas crescem com a convicção de que não são capazes de enfrentar sozinhas as situações, o que progressivamente lhes vai fragilizando a auto-estima.
 
Na escola apresentam problemas de relacionamento com os professores e mesmo com os colegas, já que são apelidados de meninos da mamã. As coisas assumem proporções graves que podem levar à fobia escolar, como forma de evitar o confronto com os problemas. O perfil destes pais, em termos socioculturais, varia bastante.
 
No entanto, existem traços comuns no que respeita à personalidade. Muitos sentem-se culpados por não terem tempo suficiente para estar com os filhos e compensam essa falta de tempo com o zelo excessivo. Há também, de certo modo, uma preguiça para a educação.
 
É muito mais fácil estar constantemente a dizer não, ao invés de permitir que as crianças analisem os problemas e consigam transpô-los. Qualquer adulto que tenha a tarefa de educar, deve saber que é extremamente importante encontrar o equilíbrio entre pôr as mãos e recuar, de forma a permitir que as crianças assumam as rédeas da sua própria vida.
 
Correr riscos, ainda que controlados, torna-nos seres humanos mais fortes e capazes, com poder de decisão e reconhecimento dos nossos próprios limites. Mais do que proteger os filhos, deixá-los crescer é um verdadeiro sinal de amor !
 
Texto publicado na revista FLASH em Setembro de 2004
 
link do postPor psicologiacriancaeadolescente, às 21:37  comentar

 
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